Quem tem filho pequeno conhece de perto a luta para colocar uma criança insone na cama. Quem tem adolescente sabe a angústia de ver a pessoa ligada no 220 via eletrônicos noite adentro. Eu tenho o pacote completo e, diversas vezes, me perguntei se medicá-las (de leve) seria um crime. Por via das dúvidas, levei a questão a médicos especialistas. E recebi sinal verde.
Na primeira situação, estávamos organizando uma viagem para o Japão. Seriam dois voos de mais de 15 horas e a previsão de um jetlag devastador nos dias seguintes. Conversei com o pediatra que, prontamente, me autorizou a dar a dose de 5 mg, na hora de dormir – tanto no avião como em Tóquio.
Na segunda situação, Estela seguia há semanas sem a capacidade de pegar no sono. Eram noites rolando na cama e dias de muita dor de cabeça. O neurologista consultado afirmou, após descartar problemas mais sérios, que a melatonina poderia ser um santo remédio para tirá-la deste padrão estressante.
Dito e feito. A melatonina, nestes dois episódios, foi milagrosa. Todos dormiram no avião, não sofreram com a confusão do fuso horário nem ficaram passados de cansaço. Estela, por sua vez, conseguiu pegar no sono rapidamente e sair do estado de pânico que a insônia causa.
Aí, surge a pergunta: o uso de melatonina é seguro para crianças e adolescentes? A maioria dos estudos mostra que sim, que a melatonina não causa efeitos colaterais quando usada por um curto período de tempo, em situações específicas. No entanto, vale ressaltar que há poucos estudos sobre o uso contínuo da melatonina em crianças e adolescentes.
Conheça a seguir um pouco mais sobre essa substância que, no Brasil, só é vendida com receita médica, em farmácias de manipulação.
> Melatonina é um hormônio, naturalmente produzido no nosso organismo. Seu pico acontece no fim do dia, preparando o corpo para o repouso. No início da manhã, seu nível diminui. Algumas pessoas têm uma real deficiência deste hormônio – independentemente de claridade. A maioria, no entanto, é prejudicada por estímulos luminosos à noite, que comprometem a produção da melatonina. Isto posto, o uso de eletrônicos na hora de dormir não ajuda muito.
> O suplemento de melatonina é uma grande ajuda para pessoas que têm dificuldade de pegar no sono – seja por alteração de fuso horário, tensão, estresse ou questões de saúde. Estudos mostram que crianças com autismo, déficit de atenção e hiperatividade ou condições neurológicas se beneficiaram bastante deste recurso. Elas adormecem mais rapidamente e seguem mais tranquilas por mais horas. O mesmo efeito se observou em crianças e adolescentes saudáveis que lutam para dormir.
> Usar a melatonina em excesso ou sem uma indicação específica, no entanto, pode bagunçar ainda mais a rotina do sono. Ela não é indicada para um adolescente que não consegue dormir à noite simplesmente porque dormiu a tarde inteira. E, o uso abusivo do hormônio para garantir um sono profundo provoca sonolência no dia seguinte. Enfim, um excesso daqui descompensa ali.
Antes de usar melatonina ou qualquer outra substância, ainda que natural e produzida pelo nosso organismo, vale uma conversa com seu médico.
Pouco sono faz mal à saúde. Você sabia?
Atualizada em 15/05/2019.