quando você vira mãe velha na festa

Quando você vira mãe velha na festa

Você sonha em ter filhos amigos. Você planeja tê-los por perto sempre, conversando, confidenciando, trocando segredos. Quando ainda são pequenos, eles também sentem o mesmo. Querem você perto, de corpo e alma. Eles querem você no banho, na mesa, na hora de dormir. Eles brigam com os irmãos para sentar ao seu lado no cinema, para segurar sua mão na rua, para ficar na cadeira mais perto da sua no avião. Eles querem seu colo. Seu ombro. Seus ouvidos. Se desse, eles talvez quisessem voltar para dentro de você. E você curte, se estressa, mas curte. Até chegar o dia no qual você se dá conta que virou “mãe velha na festa”.


Parece um futuro muito distante? Pois não é. Se você tem uma pré-adolescente em casa, saiba que esse dia está logo ali. E ele acontece assim: você vai buscá-la na escola, se aproxima da sua turminha e, mais rápido do que imediatamente, o assunto entre eles muda, os amigos se entreolham e sua filha te puxa para dentro do carro.

Quem vê a cena de longe ou ouve este relato chega a pensar que aquelas crianças (sim, ainda são crianças) estavam fazendo algo errado, proibido, inadequado para a idade. Mas não. Elas estavam apenas conversando sobre tiara de unicórnio, balas azedas que ficam doce na boca, sobre o professor de educação física ou a novata que se acha o último biscoito do pacote. Nada demais. E é aí que mora o espanto. Num piscar de olhos, você – a pessoa em quem elas grudavam e por quem se estapeavam – sobrou. Você não faz mais parte do círculo primário da sua filha. Você espalhou a rodinha.

Esse comportamento vem com um pacote completo. Oscilações de humor, irritação repentina e impulsividade na potência máxima, para citar alguns. Tudo que, até agora, era justificado pelas mudanças hormonais que estão enfrentando. O que se discute atualmente é se essas mudanças de humor não são também explicadas pelo intenso processo de desenvolvimento do cérebro, onde ocorrem inúmeras sinapses para que o órgão trabalhe corretamente. Este processo só será concluído cerca de uma década mais tarde, quando, finalmente, a capacidade mental e o controle estarão maduros.

Explicações fisiológicas existem. E não podem ser ignoradas nem subestimadas. Mas para muitos estudiosos, a principal causa do conflito – e a base de toda guerra entre pré-adolescentes e adolescentes e seus pais – é o desejo desses jovens de se impor, de ser ouvido e de formar uma identidade distinta e única.

A boa notícia é que, por mais difícil que seja aceitar que você não é mais bem-vinda na roda, que a escolha da cor do tênis não envolve mais você, que você é a mãe velha na festa, essa temporada vai passar. E durante a fase de crescimento, seu filho vai rejeitá-lo e, simultaneamente, buscar seu apoio e sua compreensão. O processo é dele: desejar crescer sem perder o lugar gostoso de filho. Então cabe a você e a mim respirar e esperar. O dia de andar de mãos dadas e, novamente, trocar confidências está logo ali.

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Mineira de Belo Horizonte, jornalista, mãe de duas meninas de 12 e 15 e um menino de 9 anos. Criadora e editora do blog Vida de Menina.

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