Na rua, ela é ótima! Fofa, educada, sorridente, solícita. Brinca com crianças menores, encanta idosos, conversa educada e pacientemente com os pais dos amigos. Em casa, não tolera nada. Acha a irmã infantil, o irmão mimado, a mãe injusta, o pai apaziguador demais. Briga com o porteiro, com a passadeira, com o zelador, com a própria sombra. Sou adulta. Sei todas as causas. A adolescência é uma fase turbulenta e cheia de descobertas e desafios para os jovens. Há mudanças biológicas, cognitivas e sociais, onde o foco é a busca por independência e identidade. Agradar os pais não está na lista de prioridades. Pelo menos, não da minha adolescente.
O amadurecimento é complicado e complexo. No campo cognitivo, a parte do cérebro responsável por processar informações ligadas às emoções se desenvolve antes da parte associada à tomada de decisões e medidas mais importantes. Isso explica porque os adolescentes respondem com a alma, com o estômago, com o coração… e não com o lado racional. Portanto, se organizar, estabelecer prioridades, visualizar consequências são atitudes que demoram a acontecer. Em outras palavras, pensar antes de agir é algo difícil de acontecer nesta fase da vida.
Sei também, racionalmente, que os adolescentes estão numa fase de transição, onde se opor ao que os pais dizem faz parte. Oferecer resistência a tudo que a mãe disser é o modus operandi das meninas, principalmente. É assim que elas constroem sua identidade, se fortalecem e se tornam adultas independentes, seguras e preparadas para o mundo. E, sei mais: para que esta fase seja mais tolerável e calma, os pais precisam estar cientes de que ela pode durar uma década inteira, tempo no qual eles precisam respirar, precisam se fingir de surdos e precisam entender que os filhos, muitas vezes, não vão concordar tampouco agir com maturidade.
Na prática, no entanto, a coisa é mais complicada e tanta compreensão nem sempre está disponível. Quando estamos no olho do furacão, é difícil encarar este período como uma maratona, onde tudo eventualmente vai se acalmar. Acabamos enxergando na frente apenas uma corrida de 100 metros, na qual ficamos enlouquecidos e sem fôlego.
Isto posto, tenho as ferramentas para entender que a adolescência demanda dos pais forças e paciência do além. Mas, ser alvo de toda fúria que habita o corpo de uma menina de 13 anos é insuportável.
Nos últimos dias, tenho notado uma irritação acima da média. Mau humor, intolerância, respostas atravessadas e a clássica virada de olhos. Dentro de casa. Na rua, a doçura segue incontestável. Num jantar com amigos e outros adolescentes, dois dias atrás, minha adolescente sorriu, brincou, contou piadas, se divertiu. Quando chegou em casa, explodiu sem razão aparente… comigo. Ao questioná-la do porque de tanto mau humor, ela disse que estava com TPM e que eu, como mulher, deveria entender.
Ora! Entendo, sim. Mas não compreendo porque o estouro é direcionado a mim e não também ao resto do mundo, já que a TPM é tão bombástica para ela. A resposta? ‘Porque você é minha mãe e, com você, eu posso estourar’. Ah, sim, porque se fizer isso na rua, as consequências serão em outra frequência.
Mas será que comigo pode mesmo sair do eixo? Será que este será meu papel nos próximos dez anos, com os três filhos? Acho que não. A começar pela TPM. Não gosto dessa desculpa para todo rompante. Nem quero que ela se apoie neste argumento. Namorado não entende TPM. Chefe não entende TPM. Amigas não entendem TPM. O mundo não entende TPM – ainda que ela seja cientificamente explicada. E, tento explicar, se é possível controlar a TPM em certas situações, use este autocontrole em casa também. Principalmente com sua mãe, né? Afinal, para que o produto para exportação tenha sucesso lá fora, ele precisa passar por um controle de qualidade interno antes!
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