Toda vez que tiro uma foto da minha filha mais velha, ela tampa o rosto e vira de costas. Ou, simplesmente, me dá aquela revirada de olho e solta: ‘não poste’. Eu só queria o registro daquele momento. Mas minha graça acaba aí. Em julho, ela viajou com uma amiga durante uma semana. Ficaram sem sinal, sem internet e sem comunicação. Um dia, a mãe da amiga foi à cidade mais perto e, muito generosa, me mandou notícias e uma foto da Lara deitada em uma pedra. Estava linda! Não resisti. Postei.
Como que por milagre, o celular morto ressuscitou e ela se lembrou de ligar para casa. A única coisa que tinha a dizer, no entanto, foi: ‘Apague a foto, por favor’. Como assim? Quero mostrar para os avós, amigos distantes, colegas que não vejo mais. Quero aquela imagem das férias longe de mim, da adolescente que se tornou. Como assim apagar? Ela já estava nas redes sociais mesmo antes de saber escrever e agora eu sou obrigada a apagar a foto?
A verdade é que sim, sou obrigada a apagar a foto. Na infância, eu estava totalmente no comando. Postava criança correndo na praia, se lambuzando com picolé, deitada no sofá. À medida que ela foi crescendo, reduzi muito essa exposição. Nada de fotos de biquíni, nada que possa ser minimamente constrangedor, nada que, aos olhos dela e dos amigos, comprometa a imagem que quer construir. O fato é que ela cresceu e pode decidir como quer ser vista.
E ela está certa. Desde que a vida passou a ser exposta e compartilhada de forma assustadora – e os riscos de cairmos nas mãos erradas são enormes –, conversamos aqui sobre privacidade, consentimento e respeito com fotos, vídeos e também áudios. Então, quando uma pessoa se sente desconfortável com uma imagem, nada mais correto do que apagá-la. Eu rapidamente apaguei a foto das férias com a amiga. E prometi mostrar qualquer imagem antes de postar.
O curioso é que os argumentos para impedir minha liberdade de expressão são incompatíveis com a forma como ela se expõe nas redes sociais DELA. Lá, os critérios são outros. Lá, ser ridícula, palhaça ou zuada passa por outros valores. Lá, ela constrói a identidade que deseja sem o filtro da mamãe. (E, estamos sempre avaliando e reavaliando os filtros dela, afinal, ainda estamos no comando.)
Quanto às minhas redes, posto o que quiser de mim. Dos filhos, jamais sem aprovação prévia. Dou a eles direito a veto. Para fotos em grupo, sou menos flexível. Com bom senso, quem decide sou eu. E, assim, seguimos mais coerentes, em controle de nossa corujice e, segundo ela, passando menos vergonha.
*Em tempo, o combinado de não postar antes de avisar já estava feito quando ela viajou com a amiga. Eu quebrei o acordo.
Regra infalível: só poste ou escreva aquilo que gritaria no pátio da escola.
Atualizado em 12/08/2019.